O Instituto de Desenvolvimento do Trabalho inicia o ano de 2018 com a publicação de dois estudos, um mais denso, intitulado “RAIS 2016: ratificação da evidente retração do emprego no Ceará”, e um artigo denominado “Volta a crescer a ocupação juvenil no Brasil e no Ceará”.
No primeiro caso, o referido estudo retrata, de forma pormenorizada, a realidade recente do mercado de trabalho formal do Estado do Ceará, à luz dos números da RAIS de 2016, divulgados no final do ano passado pelo Ministério do Trabalho. 2016 foi um ano marcado por forte retração da atividade econômica nacional, quando a economia cearense encolheu significativos 5,3% e o número de desempregados e a taxa de desemprego estadual registraram recordes históricos decorrentes, em grande medida, dos impactos negativos na geração de emprego formal no estado, como evidenciam as análises dos dados.
Nesse contexto, trabalhando uma série histórica de sete anos, de 2010 a 2016, o mercado de trabalho formal do Estado do Ceará é investigado segundo o gênero, faixa etária, grau de escolaridade e rendimentos, desagregados em nível ocupacional, geográfico e setorial, com informações sobre o número de empregos, por município e tamanho de estabelecimento, além de sinalizações sobre a evolução da massa salarial, tendo como referência o mês de dezembro de cada ano.
“O impacto da forte retração da atividade econômica cearense sobre o emprego formal do estado, em 2016, foi bem mais elevado do que o verificado no ano anterior. Se em 2015 foram 9,7 mil empregos a menos, em 2016, o estado perdeu 99,4 mil empregos formalmente registrados (-6,4%), um dos mais expressivos resultados estaduais, em termos relativos. Nesse ano, o recuo do emprego ocorreu de forma generalizada penalizando, sobremaneira, os jovens, posto que 58,3 mil jovens de 18 a 24 anos de idade perderam seus empregos, uma diminuição do emprego juvenil duas vezes maior que a de 2015, quando o estoque de emprego juvenil encolhera em 29,6 mil vagas, totalizando a extinção de 87,9 mil empregos para a juventude cearense, nos últimos dois anos”, afirma Mardônio Costa, autor do estudo.
Sobre o artigo, do mesmo autor, que aborda a ocupação juvenil, a motivação foi o interesse de verificar se, no Estado do Ceará, crescera a ocupação juvenil, no terceiro trimestre de 2017, a exemplo da constatação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), da ampliação da ocupação juvenil no Brasil, em idêntico período, conforme destacado na seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do IPEA, do quarto trimestre de 2017, divulgada em dezembro de 2017.
O estudo mostra que, a exemplo do corrido em âmbito nacional, de fato, no Ceará, além de duas reduções sucessivas da taxa de desocupação, no segundo e terceiro trimestres de 2017, cresceu de forma substancial a ocupação na faixa de 18 a 24 anos de idade. Enquanto no País o incremento foi de 3,1%, o número de jovens ocupados no Ceará cresceu 7,3%, na comparação do terceiro trimestre de 2017 com o mesmo período do ano anterior, o dobro do resultado nacional e equivalente a um incremento absoluto de 34 mil ocupações. O artigo enfatiza esta constatação posto que foi o primeiro resultado positivo após treze variações negativas da ocupação juvenil no Ceará, ocorridas desde o segundo trimestre de 2014.
No entanto, o artigo chama a atenção para o risco da análise isolada desse resultado, uma vez que, entre os jovens cearenses de 18 a 24 anos, os números de desempregados (179 mil) e de subutilizados por insuficiência de horas trabalhadas (73 mil) ainda se mostram bastante elevados, com uma taxa combinada de subutilização por insuficiência de horas trabalhadas e desocupação, na semana de referência, de 37,2%, bem acima da média estadual (21,6%), no terceiro trimestre de 2017. Ademais, esta ampliação recente da ocupação juvenil no estado ocorreu, concomitante, a um quadro de relativa estabilidade do rendimento médio real do trabalho juvenil, no terceiro trimestre dos últimos três anos: R$ 818, em 2015, R$ 816, em 2016, e R$ 811, em 2017, todos aquém dos R$ 847, de 2014, com perda real de salário de 4,3%, entre 2014 e 2017.
Portanto, por se tratar de um segmento com sérios entraves à sua entrada e permanência no mercado de trabalho, é muito bem-vindo e oportuno o crescimento da ocupação juvenil no trimestre em análise, evidenciando alguma recuperação do mercado de trabalho local, mas se deve atinar para o fato de que este veio acompanhado de um nível mais expressivo de subutilização laboral juvenil, onde quatro de cada dez jovens, nessa faixa de idade, estavam subutilizados no Ceará, com ligeira perda salarial no período, conclui o autor.